(Julius Robert Oppenheimer)
Comédia pobre para teatro amador.
Mês de Janeiro, primeiros dias.
Chove lá fora.
Personagens
Micaela Estola– Lourinha bonita e extremamente pintada, que se destaca pelas manias com a tecnologia. 34 Anos
Petrónio Gifer – pífio e não muito bem sucedido empresário subsidiado pelo QREN e pela EIF. Juntou-se com a namorada rica. 37 Anos
Cenário:
Uma sala de um apartamento de classe média com decoração naif.
Dois sofá; um de dois e outro de três lugares.
Ao centro, uma mesinha de ferro forjado com tampo em vidro , repleta de bibelôs baratos, um cinzeiro limpo e uma moldura com uma foto de ambos que diz "Recuerdo de Palma de Maiorca"
Em frente ao sofá maior, um panóplia de aparelhos electrónicos.
Um LCD pendurado na parede.
Casa em Sacavém, mas que fica bem dizer a toda a gente que é na Expo
Acto 1 e único:
Petrónio Gifer está sentado no braço do sofá mais pequeno, enquanto ouve Micaela a injuriá-lo já há um bom quarto de hora.
Escuta-a de cabeça baixa como que resignado, enquanto ela o massacra com impiedades e com aquele sorriso sarcástico de quem é dona da verdade, o mesmo que sempre a afastou de todos os homens (os mesmos homens que somente a perseguiam pelo seu look, mas que quando conheciam a fera, fugiam...), menos de Petrónio, o seu namorado.
Namoram há já 7 anos...
Micaela: Estás a ouvir-me, Petrónio? Só sabes falar! Falas, falas, falas e não dizes nada de jeito! Será que ouves tão bem como falas?? Como é que eu me fui me meter com um zero como tu?
Petrónio: Micaela, deixa-me!
Micaela: (Ri-se como uma galinha...) Olha só o coitadinho! “Deixa-me,deixa-me”...
Quem é que vai trabalhar na Holding agora para sustentar o teu luxo inútil?
Eu sou a boa cá de casa, estúpido!
Petrónio: Micaela, vai descansar! Tu estás stressada. Vives no stress! Porque é que não tiras umas férias?
Micaela: Férias o tanas! Antes quero ficar sozinha! Bem que me avisaram. Eu devia era ter-te largado, grade pote de bofetadas!
Petrónio tinha já mais 15 Kgs do que quando se tinham visto pela primeira vez...Tinha já umas largas entradas, frontais, mas não havia sinais de calvície.
Micaela estava elegante, como sempre tinha estado.
Apenas mais alguns papos de galinha que planeava tirar na próxima viagem ao Brasil, em Fevereiro.
Petrónio: (levanta a cabeça e começa a encarar Micaela, a inicio com perplexidade, depois com esgar de ódio no olhar. Ergue a voz) Micaela, isso vindo de ti tem muita graça...muita mesmo.
Não sou eu quem tem uma avó que se entrega aos affairs!
(Levanta-se) Sim, aos amores clandestinos!
Está no teu DNA esta tua histeria insuportável! Começo a ficar farto destas discussões sem nexo...
Micaela: (pára no meio da sala e volta-se, desvairada) O que é que estás a dizer, meu merdas?
Petrónio: Tu ouviste bem, Micaela! É isso! Amores clandestinos! Andei com a tua avó, a D. Galina Majorette Estola!
Micaela pára no meio da sala, enquanto olha fixamente para Petrónio. Abre a boca e nem sequer articula nada. Apenas silêncio misturado com aquele olhar típico de estupefacção...
Petrónio: Comi muita vez a senhora tua avó, Micaela!
Eu sabia que era fraco negócio largar a avó para ficar com a louca e pobretanas da neta! Mas arrisquei...Agora digo-te.
Vai te catar, reles! (saí, batendo com as portas).
Micaela, sem se voltar,verte lágrimas de apenas um olho... aos poucos desaba sobre o tapete.
Desfalece...
Petrónio volta com uma mala de viagem na mão.
Pára ao lado de Micaela desmaiada por alguns segundos e finalmente sai, deixando a porta de saída aberta. Sente-se livre...
A morte desce, toma Micaela nos braços e sobe novamente.
Cai o pano.
Fim do acto.
Fim da peça.
Comédia trágico-cómica!!!
A música tinha de ser a condizer...
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